Cada vez que chove, as palavras Santa Chuva passam-me pela cabeça. Este som não canta a chuva que se ouve na rua, o ruído é outro e é assim que hoje fico-me por ouvir Maria Rita – uma voz que parece não saber mentir, tal é a presente sinceridade de um amor à música.
Sempre gostei de Santa Chuva – pelo poder de [segue o clichè:] me tirar o fôlego e, ainda assim, com a lágrima no rosto, surge a sensação de que há força aqui dentro.
Há qualquer coisa única na fragilidade de uma mulher e sua capacidade de lutar contra a injusta tristeza.
Correndo o risco de haver quem muito discorde, Santa Chuva, na voz de Maria Rita [porque, faço questão de esquecer os Los Hermanos e sua ligação a este som...] é, para mim, uma daquelas canções que só uma mulher compreende, só um ouvido feminino realmente sabe a luta que exala daqueles sons.
Quando ferida pelas acções [ou ausência de acções] da pessoa que ama, uma mulher cai indefesa, o soalho enche de lágrimas e arrefece o corpo até ao coração. E é assim que uma mulher se revela mais frágil que um fio de cabelo – pois não há causa mais forte do sofrimento de uma mulher que a falsidade e desamor de um homem.
Por outro lado, já diz a célebre frase [ainda que não muito bem adequada ao presente som]: “Hell hath no fury like a woman scorned”.
Isto para relembrar que, se a fragilidade é feminina, também o são a intuição e a força. Em Santa Chuva, não é a mulher indefesa que surge – não ouvimos aquela que necessita de um knight in shinning armour.
Aqui, ouve-se a certeza de um nunca mais, de uma lição aprendida. A mulher ergue-se do soalho salgado e impõe a certeza de que o seu coração não voltará a cair. Porque a ingenuidade e o desarme não são inerentes ao coração feminino – e o homem que o fere não tem como desculpar-se.
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