Estava na Alemanha, no Natal de 2002. O orçamento (estudado até ao último cêntimo) levara-me a optar por não visitar a família e amigos em Portugal.
A poucos dias do Natal, vi os amigos da residência – desde os alemães aos polacos e italianos – partirem para casa, com a promessa de voltarem antes do Ano Novo.
Surgiu o receio de entristecer dado o repentino silêncio nos corredores e, especialmente, na cozinha. Felizmente, não fui a única que decidira ficar em Colónia – o Mohammed e a Paula também não fizeram questão de passar aqueles dias de férias junto da família.
Assim, a cozinha perdeu o silêncio – um marroquino [muçulmano], uma romena [ortodoxa] e uma portuguesa [católica] estavam lá para manter alguma vivacidade naquela residência.
Ainda hoje, gosto de pensar que foi um dos melhores momentos natalícios que partilhei. O Natal, ainda que uma época festiva essencialmente cristã ou católica [confesso, ainda hoje não sei bem o que é o quê, no meio de tanta crença...] juntou três pessoas de diferentes raízes religiosas.
Lembro-me que Mohammed cozinhou para a ceia – o melhor frango e cuscus de sempre! Lembro-me de, depois do jantar, trocarmos prendas. Lembro-me de termos decidido não usar o metro do dia de Natal e assim surgiu uma das mais longas caminhadas em Colónia [um dia destes conto-vos como foi a outra mais longa...]. Passeámos e conversámos pela [e acerca da] cidade, sem nos lembrarmos que era dia de Natal. Mas... Se não o fosse, talvez não teriamos convivido desta forma, com serenidade e alegria, partilhando sentimentos e sorrisos.
Como prometido, os nossos vizinhos regressaram a tempo de celebrar o Ano Novo na residência – a Carly trouxe-me caldo verde para fazer e houve ainda quem, do Luxemburgo me tivesse trazido uma embalagem de tremoços e um pack de Super Bock!
O tempo passa e as lembranças daquela cidade revelam-se imóveis – mais do que isso, as pessoas que conheci nessa altura contribuíram, em larga medida, para a pessoa que sou hoje! Há pessoas dotadas de uma essência notável em sorrisos sinceros, que contagiam e nunca se esquecem e, já cantava Nick Drake:
"Time has told me
not to ask for more"
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