quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

[yesterday was a] Bad Day

   Este soalho terminou o dia de ontem com umas quantas tábuas partidas e, em busca de sons que reparem o estrago, tem criado nas últimas horas uma cacofonia explosiva, que vai desde Portishead a Rammstein.
Esta procura levou-me, ainda ontem, a uma banda que me oferece um pouco de tudo [ainda que as suas criações dos anos 80/90 me pareçam bem mais maciças e resistentes].

Não comentar REM, deixaria este soalho com um buraco quase impossível de tapar – afinal de contas, tem a mesma idade que eu e assim é daquelas bandas que, quer queira quer não queira, foi revelando ao longo dos anos a sua companhia com uma ou outra canção:


[a]   Radio Free Europe ouvia-se, tinha eu um ano de idade... Sendo assim, que posso eu dizer? Até poderia referir-se à Organização Norte-Americana Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL), mas que sei eu? Pois bem, a qualidade intemporal da Música permite-me que diga que o que realmente importa é que esta é daqueles sons que se ouvem bem num local semi-iluminado, com um grupo de amigos que dança sem se dar conta dos movimentos.

[b]   A vontade de dançar e ir a um concerto de REM torna-se evidente com Little America. É um som que me prendeu desde as primeiras palavras, porque “I can’t see myself at thirty” fazia todo o sentido!

[c]   Hoje, penso em Driver 8, simplesmente pelos acontecimentos de ontem – era eu a driver e o meu carro ficou “feito num 8”! É uma canção que opto por não ouvir agora, pois lembra o quão árduo é atingir um objectivo e a dificuldade pede uma pausa, ainda que se se esteja longe do nosso destino.

[d]   No espírito de mudança para um som bem mais positivo, opto por I Believe – pois há que acreditar na mudança para algo melhor ou, pelo menos, mais realista. “I believe my shirt is wearing thin /And change is what I believe in” – carrega em si a verdade de toda a canção e, pessoalmente, não poderia fazer mais sentido: pois há que acreditar na mudança, quando algo começa a deteriorar o nosso “eu”.

[e]   Há tantas covers de The One I Love e ainda assim não há nada como ouvir o original... Pouco se dirá sobre esta canção – estará sempre ligada a alguém, num dado momento da vida – pois quem a ouve, deixa o egoísmo para trás e enche o coração e a mente com a existência de uma outra pessoa.


[f]   Li algures que Turn You Inside Out é uma das canções favoritas de Michael Stipe. Não sei se será verdade, mas é bem possível. Afinal de contas, quem não gosta de uma canção que fale de amor, sem recorrer ao clichè – porque “amar” nem sempre é um mar de rosas.

[g]   Perante os elogios a sons de REM que que se vão sentindo nesta mensagem, diriam que sou uma fã incondicional. A verdade é que há canções de REM que me fazem fugir a sete pés. Não será surpresa quando digo que Shiny Happy People é, para mim, a pior canção que os REM alguma vez criaram. Tenho por hábito acreditar que, sons como aquele acontecem por um de duas razões:
[] demasiada droga ou
[] droga a menos.
Indecisa no que diz respeito a REM, opto por Losing My Religion. Tenho vindo a saber o que este som respira – porque há que comunicar, ser sensato e sincero para, no fundo, acreditar numa relação.

[h]   Acredito piamente que Everybody Hurts é uma canção que acompanhou a adolescência de toda uma geração nos anos 90. Confesso não ser excepção – as dúvidas e paixões de uma jovem foram confortadas por este som melancólico e, ao mesmo tempo, doce e esperançoso. Esta canção será sempre um ombro amigo para muitos, e que ombro!

[i]   Não sei bem porquê, com I don’t sleep, I dream, surgiu a ideia de que REM faz coisas sexys – e assim penso em uma das qualidades de REM: a possibilidade que nos oferece de ouvir uma canção e pensar o que quisermos dela – porque a imaginação é livre de formalidades realistas.

[j]   Há uma canção que em tempos me prendeu pela calma que oferecia, apesar de toda a confusão que nos rodeia – por entre a perda e o ruído, há um coração que bate e que deve ser escutado. E-Bow The Letter é uma brilhante colaboração com Patti Smith – e assim se engrandece toda força para carregar o peso de uma fantástica canção.

[k]   Ignorando toda a complexidade que esta canção apresenta – porque há questões cuja simplicidade é apenas superficial e lá em baixo há muito mais para descobrir – há á dias em que me sinto assim: tal qual um Daysleeper.

[l]   Se, por outro lado, REM não criticasse, se não apresentasse o negativo de uma forma tão alegre, talvez, não ouvisse com tanta frequência. E assim recordo Imitation of Life, onde se sente a poesia até ao último detalhe – porque a arte imita a vida – e imitação não é sinónimo de tradução.

[m]   Com o passar dos anos, os sons de REM foram-se afastando destes ouvidos... Around The Sun surgia quando o optimismo era necessário, mas por vezes, um pouco tarde de mais... A idade tem destas coisas e REM também não ficam mais novos!..

Talvez Collapse into Now trará uma companhia que mate saudades de sons destes senhores! Entretanto, fica aquela que me relembra ontem...

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