terça-feira, 30 de novembro de 2010

Crash[ed my car] Kings

Hoje, após um acidente de carro pela manhã e a certeza de que não há como culpabilizar outra pessoa que não eu, fica uma canção de Crash Kings, porque:

[1] com o acontecimento de hoje, considero-me justa pretendente ao posto de “Car Crash Queen”;

[2] só posso esperar que seja já Quarta, pois o dia de hoje é para esquecer;

[3] estou a precisar de sons que me impedissem de pensar nos estragos do meu carrito e, entre tantos que me passaram pela cabeça [desde Airbag de Radiohead a Crash Into Me de Dave Matthews Band], este é o que estranhamente mais se afasta do acidente... 


Amanhã será melhor (já dizem os Incubus [ironicamente, em Drive]: "whatever tomorrow brings, I’ll be there...").



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Come Together

“Não se ama alguém que não ouve a mesma canção” – canta Rui Veloso, enquanto acabo o café e acendo o cigarro – e assim, elimino o texto que estava a escrever e opto por seguir este som, que me levará algures neste dia frio. 

A Paixão tornou-se usual (ou até banal) nos bares e cantares deste país e, ainda assim, há quem dê a mão à palmatória na força deste simples verso.
Pessoalmente, tenho a mão estendida desde sempre – pois o "não ouvir a mesma canção" já proporcionou o desinteresse [preconceituoso e involuntário] por uma ou outra pessoa –, mas mantenho a certeza de que o verso da medalha é igualmente bem possível.

Ainda que A Paixão nos fale de um desamor, o dia de hoje relembra como a canção – [quase] toda e [quase] qualquer uma – é uma força que elimina o espaço entre as pessoas, criando novas amizades e proporcionando um novo amor. Quem não foi ainda feliz vítima desta força, vive [digo eu] com menos sorrisos.

De um modo geral, diria que há sons que permanecem no coração – como que uma pilha extra e recarregável – para que ele não deixe de sentir. Por vezes, temos a sorte de encontrar quem use uma mesma pilha, possibilitando assim a aproximação dos corações – e ouve-se um tic-tac em uníssono que sabe sempre bem!

Nestes dias frios, que nem sequer deixam ver o sol, tenho pairado numa outra canção que recarrega as pilhas e apela ao aquecimento do coração – porque às vezes, para que haja a aproximação e o aconchego, temos que apelar!

Assim, esta canção vai e vem nesta semana de Novembro, sem que o seu significado vá para além do título. Ela é ouvida [e, em momentos distraídos, cantarolada] pela vontade de estar junto de quem se gosta, pela sensação de que essa união é possível – basta querer e ... basta ouvir a mesma canção!


Ainda que bastante reticente quanto a algumas criações dos Beatles [Yellow Submarine, independentemente do seu valor social, será sempre uma tortura...], há sons sensacionais nos seus álbuns e Come Together é, para mim, um excelente exemplo. Mais do que isso, tem sido uma excelente companhia!

Perante tantas opiniões quanto ao significado de Come Together [e, já agora, de qualquer outra canção dos The Beatles], agrada-me a ideia de que cada estrofe descreve cada um dos membros da banda, pois nem sempre temos que ver as coisas pelo lado político... Os sons unem-se e as palavras apresentam quem os cria – se tiver que pensar acerca do carácter social e político, não será hoje, certamente!

Hoje, fico-me pelo apreço da sua sonoridade suavemente energética e ideia de união que a música cria.  



sábado, 27 de novembro de 2010

Feel So Low

Há dias em que o soalho vai a baixo – surge um peso que pisa as tábuas sem se descalçar e magoa a madeira. Nesses dias, o soalho lamenta-se com a ajuda de Porcupine Tree e os sons em Feel So Low.

Foi esta canção que me deu a conhecer Porcupine Tree, há três anos apenas... [ainda bem que nunca é tarde para ouvir canções pela primeira vez!]
Curiosamente, quando ouvi Feel So Low pela primeira vez, não andava nada em baixo – era Verão, o sol alimentava a boa disposição e o dia-a-dia sorria para momentos bem vividos. Ainda assim, em contraste com a minha disposição, não consegui deixar de ouvir repetidamente esta canção e procurar os restantes sons desta banda britânica.

Tenho por hábito não catalogar bandas por estilo [muito graças aos limitados conhecimentos que tenho desses catálogos], mas chamam-lhe rock progressivo, algo psicadélico ou electrónico e com uns traços de heavy metal. Ora, catalogar Porcupine Tree parece-me ser uma tarefa difícil e o meu catálogo é sentimental, consequentemente, só posso dizer que o estilo desta banda é bom! Bom de se ouvir, bom de se sentir, bom de se partilhar.


Se o tom melancólico é frequente nas [poucas] canções que conheço, a característica singular presente em cada canção leva-me a ouvir Porcupine Tree uma e outra vez – quer me sinta bem, quer não sorria há bastante tempo.

Feel So Low, ainda que não a canção mais melancólica desta banda, será aquela que liberta a tristeza sem recurso a metáforas, alegorias ou qualquer outra figura de estilo.
Aqui, a melancolia é pura, simples e sem rodeios – as palavras acompanham a simplicidade da situação retratada e, com todo o apoio da música, o seu valor é expresso de uma forma que poderá fazer pensar, num ou noutro momento, "aquela canção sou eu".

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Carl Hancock Rux

Num dia de Novembro de 2003, no TAGV, tive a feliz oportunidade de assistir a um concerto de Carl Hancock Rux. Ouvia, pela primeira vez, aquela voz incrivelmente quente, cuja veracidade se espalhou por todo o teatro, levando-me desde a lágrima até, na última canção, à dança.

Foi assim que iniciei o final do ano a ouvir Rux Revue e Apothecary Rx – dois álbuns que me surpreenderam, pois mostraram ser ainda melhores do que o esperado. São o exemplo da harmonia criada entre o rústico e o urbano  tão sincera quanto ao vivo, o que nem sempre acontece.

A spoken-word de Carl Hancock Rux, revela-se serena e sábia; está presente e impõe a mensagem sem dar espaço à violência porque a sensatez das palavras é a adequada e os "pontos", "vírgulas", "reticências" e "parágrafos" são revelados por uma voz grave que sabe o que faz. A presença de vozes femininas, cuja força é notoriamente benvida por Carl Hancock Rux, acrescenta cores e sabores a cada canção. Se os sons são, por si só, um pilar que segura as palavras, aquelas vozes elevam-nas a um patamar onde os detalhes se compõem de forma excepcional.

Este poeta porque ele é, antes de mais, alguém que usa a ilusão das palavras de uma forma tão verdadeira quanto a realidade que transmite dá a conhecer também o seu berço: é Harlem que se ouve o de ontem, o de hoje e, sem que a mão se chegue ao fogo, o de amanhã.
Ao ouvir Carl Hancock Rux, ouvem-se pedaços de uma sociedade actual e é assim que, ainda que do outro lado do oceano, é tão fácil vivenciá-la. No entanto, acredito ainda que se ouvem as suas raízes a angústia em Wasted Seed provoca provoca um suave lamento que funde, pelo menos,  blues, jazz hip hop. Por outro lado, em No Black Male Show é o uso voluntariamente excessivo de hip hop e seus estereótipos.

Mas a verdade é que, Carl Hancock Rux é tudo menos um estereótipo e as suas obras, quer escritas quer sonorizadas, são prova disso.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Guns'n'Roses

Este soalho é ocasionalmente vítima do bicho da madeira – que rói e destrói, deixando aqueles furinhos desagradáveis. Hoje, para desagrado de alguns, estas tábuas revelam o seu desamor pelo som estridente de um bicho que parece imune a qualquer insecticida – pois há muitos que o protejam [provavelmente pelas mesmas razões que eu hoje o ataco].

Assim são, para mim, os Guns’n’Roses [dito isto, acredito piamente que há quem leia esta frase e jure nunca mais cá voltar!]. Já tenho ouvido “que sacrilégio! Como és tu capaz de não gostar deles?!” 
Pois bem: é tão natural como não gostar de bicho da madeira.

No entanto (e em minha defesa?!), este meu desapreço pelos Guns’n’Roses não leva ao desprezo das suas canções – a verdade é que gosto desta banda e das suas canções... mas só até o Axl Rose começar a cantar... Assim sendo – o bicho é, no fundo, este famoso vocalista.

Pessoalmente, ouvir Guns’n’Roses é um exercício de espera – espera-se que Axl Rose se cale, espera-se que os músicos [abençoado Slash e dia em que criou algo a solo! E um obrigado, pelos Velvet Revolver!] apresentem os sons que vale a pena ouvir. Ou, em último caso, espera-se que o álcool faça o efeito pretendido para uma noite bem passada num bar em que teima em passar “Sweet Child of Mine”.

Havendo álbuns de Guns’n’Roses em versão puramente instrumental, serei a primeira a ceder e ouvir com agrado.
Termino então com um pedido de desculpa aos músicos de Guns'n'Roses e, para Axl Rose, fica aqui um sentido:

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fiona Apple

Lembro-me de quando trabalhava na República Checa – durante umas largas semanas, era o único som que ouvia. Fazia questão de passar à frente qualquer álbum que tivesse no leitor de mp3, só para ouvir Fiona Apple.


Por vezes tenho saudades daquele país e, ainda mais, de passear pelas ruas de Praga – de observar os turistas e estranhamente sentir-me bem, como se aquela cidade fosse minha, como se eu [apesar de ser Portuguesa de gema] fizesse parte dela.

Essa saudade estende-se a Fiona Apple – um talento que se encosta ao génio – é, sem dúvida uma Extraordinary Machine! Com os pés claramente assentes na terra [pois se não soubesse o que estava a fazer, não o faria tão bem...], criou pequenos contos de vidas que poderiam ser as nossas.

E é por isso que pergunto “o que lhe aconteceu?” – três albuns é, digo eu, muito pouco! Muito pouco para quem cria canções brilhantemente viciantes e – provavelmente contra as expectativas de alguns – ainda não morreu de uma overdose ou de qualquer outra tragédia...
Repito: “é muito pouco!” Será abusivo pedir que ela nos apresente algo mais?

Da mesma forma que, há alguns anos, ouvi incansavelmente os mundos que Fiona Apple nos oferece, ainda hoje mantenho aqueles álbuns no meu leitor de mp3. Há canções que deixaram fendas e lascas neste soalho: Shadowboxer obriga-me a fechar os olhos e deixar as borboletas na barriga voarem num remoinho de emoções – do início ao fim. Já Limp, carrega uma violência inexplicavelmente sensual desde a primeira palavra... E, não posso terminar sem mencionar Window – porque a surpresa de uma ingenuidade revoltada, aconchegada num som que nos vislumbra, é sempre benvinda!

E assim, enquanto Fiona Apple não nos presenteia com mais um álbum, fico-me a [ouvir] para sonhar...
 

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Breathe Me

Por vezes, parece-me impossível dissociar uma canção de um filme ou de uma série televisiva, ou até mesmo de anúncios publicitários.

E assim, quando ouvimos Misirlou por Dick Dale & His Del Tones, pensamos em Pulp Fiction de Quentin Tarantino. De igual modo, quando soa Lust for Life de Iggy Pop, damos por nós a relembrar “Choose life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, …”

São vários os exemplos merecedores de comentário, mas hoje fico-me por um som que, talvez por tê-lo ouvido na televisão pela primeira vez, sou incapaz de dissociá-lo de uma série televisiva.

Comecemos pela série – Six Feet Under – que segui quase religiosamente desde os tempos em que era transmitida na RTP2.

Esta série, que deixa saudades de um tempo em que havia arte numa série televisiva – em que os sons, as imagens, as palavras se embrulhavam e se abraçavam, e lutavam umas com as outras e dali saía Arte – e dali saía um bocadinho de cada um de nós.


O som escolhido para as últimas cenas do último episódio foi "Breathe Me" de Sia.

Esta canção  a sua melancolia e [ainda que disfarçada] esperança – parecia completar aquelas imagens e conduzi-las a um final perfeito.
E assim fui conduzida ao aconchego de um som que me arrepia, no qual tropeço frequentemente, porque [às vezes] também é agradável ouvir o que nos entristece. E, quando oiço Breathe Me, a tristeza acompanha cada palavra. Felizmente, fico pela ideia de que vou a caminho do final [quase] perfeito.





segunda-feira, 22 de novembro de 2010

I Fought The Law

Para alguns, ouvir uma canção e cair num momento de sentimentalismo romântico é habitual. Essa queda não será muito habitual quando pensamos em The Clash [salvo o caso das moças que se apaixonam por um jovem Rockabilly!].

Afinal de contas, estamos a falar de um som essencialmente rebelde, com a partilha frequente de ideias semi-politizadas. Então, será isso capaz de ser romântico? As canções parecem trazer uma energia para mais do que dançar no soalho – é um pular aos zigzags, com o punho cerrado e um sorriso no rosto. The Clash eram a mistura explosiva de rock, punk, ska, reggae e, se muito bem lhes apetecesse, até salpicavam jazz, disco ou funk!
Agrada-me esta combinação de sons energéticos e aprecio como a rebeldia em The Clash se tornou, para mim, mais séria – o anarquismo e o niilismo foram substituídos por palavras e acções solidárias de movimentos de libertação e, simultaneamente, de protestos contra a violência. [Quase que] uma contradição – mas,se capazes de harmonizar sons contraditórios, os ideais estavam contraditoriamente a par.

Mais uma vez, pergunto: será isso capaz de ser romântico? Pessoalmente, sei bem como responder cada vez que oiço “I Fought The Law”.

Esta canção, mais do que o lamento contra a injustiça, mais do que um hino ao proletariado[?], é um momento. A verdade é que, da mesma forma que uma bebida nos faz lembrar uma noite bem passada, uma canção permite a lembrança de um ou outro momento e, por vezes, os dois se tornam unos.


"I Fought The Law" foi vítima de um desses momentos – numa noite qualquer, num bar qualquer desta cidade qualquer, onde todo um grupo se junta para ouvir uns sons quaisquer, senti – por um momento – a perda de uma possível relação, o afastamento de uma pessoa, ainda que ela lá estivesse.

Nesse momento dançava-se The Clash. Nesse momento, cantava-se “I Fought The Law”

Assim, se me perguntarem se “I Fought The Law” é romântica, responderia:

“pessoalmente, não tenho como dizer que não”.

 

sábado, 20 de novembro de 2010

Ornatos Violeta

Nestas tábuas há muito pó – daquele que não se quer limpar, que permanece e não provoca qualquer alergia! O pó de hoje é português, tão entranhado neste soallho que já não sai – são 14 anos de um som que jamais pedirá vassoura.




Ornatos Violeta abriram a porta para sons que adornaram a minha adolescência e, por feliz voluntariado, prendem-me num mundo onde as palavras soam sempre melhor do que aquilo que representam.

Naturalmente, não me recordo da primeira vez que ouvi este quinteto. No entanto, confio na memória de tempos em que os corredores do liceu eram inundados de sons estrangeiros, as boysbands deliciavam os olhos das jovens e a Língua Inglesa era um escape dos rotineiros vocábulos portugueses.

Aquele cocktail de rock, ska e funk, temperado com uma ironia edulcorante, contribuiu certamente para um gradual abandono de sons ocos e afugentou a indiferença perante a música portuguesa.
A delícia de Ornatos Violeta é um todo do que procuro da música, e talvez por isso os seus sons não desaparecem da minha playlist [senti]mental.

Há algo diferente nas palavras quando na voz de Manel Cruz. É o elogio ao bom uso da Língua Portuguesa, com origem numa genialidade invejável. Uma canção, para que me prenda, não é apenas a revelação de uma agradável sonoridade instrumental acompanhada de vocábulos em rima e sempre me pareceu que Ornatos Violeta partilhavam uma semelhante opinião. Manel Cruz conhece o peso de cada palavra e equilibra o seu som como que desforçadamente mas sem esforço.
Cada álbum – e se tivessem editado mais, seriam ainda assim poucos! – é um pedaço agridoce que nunca enjoa. E é por isso que aconchego este pó e deixo o cotão sempre à mão de usar.

Assim, estou grata por Ornatos Violeta, pela companhia que me fazem quando caminho pelas ruas, pelo erguer de coragem que me oferecem, pelo andar a passo largo mais altivo, pela força para lá chegar – onde quer que seja – e ainda, pela calma, pela paixão, pelo amanhã e amanhecer de sons.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Vazio meio-cheio?!

Por vezes, sinto-me a vaguear num vazio da música - da música boa.
Com tanta melodia para ouvir, como é possível cair na saudade de ouvir uma canção pela primeira vez e sentir que preenche aquele momento?

A culpa – se é que há necessidade de incriminar alguém ou algo – é da qualidade sedutora de algumas canções. Há canções que, após anos desde a primeira vez que as ouvi, ainda preenchem a minha lista mental de “favoritos”. Assim, vivo longos tempos voluntariamente presa às mesmas canções. E tem sido inconstantemente agradável. Até agora. Pois neste momento, sinto saudades. De música.

Hoje em dia, a complexidade que a música oferece (através de tantos e variados artistas), permite-nos a entrada de inúmeras harmonias na nossa vida – daí o meu lamento.
Porquê?
Será que sou a única que sente este vácuo?
Com tantos mundos para ouvir, porque será que sinto a falta de canções ainda não ouvidas?

Recorrendo a uma terapia agressiva – uma tentativa de escapar à dita culpa –, o meu desamor pelas Estações de Rádio tem vindo a crescer. Todos os dias – casa, trabalho, casa – ouço canções que se adequam ao estado do tempo, que procuram lutar a frustração causada pelos engarrafamentos, que aliviam o final do dia… Óptimo – não fosse a sensação incómoda que deixa. A sensação de que as canções que passam na rádio – mesmo naquelas que se orgulham de não repetir uma única canção em 24 horas – não são senão variações de algo já ouvido ou sentido.

Não tenho como objectivo manifestar contra as Estações de Rádio. Como disse, este meu desamor pelas mesmas é terapia. Lamento, isso sim, a minha saudade de música. De sentir que esta ou aquela nova melodia desvenda um mundo que estava presente mas eu não tinha ainda dado conta.

Assim descubro que estagnei – confortavelmente – em canções que me oferecem o que quer que seja que eu procure; raramente em busca de novas melodias mas dando boas vindas àquelas que surgissem (a ideia de uma agradável surpresa é bem maior que o resultado de uma busca).
Por vezes, há um vazio por onde vagueio. Parece-me que está na hora de preenchê-lo.

gosto da ideia de que terá ido soar para cada cantinho de silêncio :D


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Alexi Murdoch

Mais uma vez, aqui vai um texto dos tempos do "Blitz" - será o penúltimo a ser portado aqui. Estou a negociar com a minha nota mental quanto à criação de um novo texto todos os dias... hummm... A ver vamos!

Como uma brisa – o sopro da beira-mar nunca me soube tão bem. Foi assim que me senti quando ouvi Alexi Murdoch. Já se passaram alguns anos e esta brisa ainda é bem vinda.

Tem sido agradável a ideia de poder ouvir Alexi Murdoch – sempre.

A música – aquela que, para mim, não destrata esta arte – é fugitiva do tempo. Diria antes: é ela que lança os dados, flutuando em liberdade. É por isso que – recorrendo a um simples exemplo – o tempo sucumbe quando soa “Nessun Dorma” de Puccini, ou “What a Wonderful World” cantado por Armstrong.
Se os ponteiros do relógio nos regem, gaguejando segundo a segundo, a música fluí décadas, séculos, eternamente ignorando esse limite.
A música não sobrevive ao tempo – apenas vive. Assim, agradeço a possibilidade de saboreá-la – sempre.

Por outro lado, há canções que – pessoalmente – limitam o espaço. Melhor: as características do espaço que me rodeia. A melodia, a palavra, são – para mim – picuinhas. Com Alexi Murdoch, procuro a calma das ondas do mar.

Alexi Murdoch canta a simplicidade da vida tantas vezes ofuscada pelo pesar de uma sociedade que nos açoita, transformando o “eu” tão banal que nos esquecemos de sentir a vida. Pois nem tudo é guerra, corrupção e mentira. E Time Without Consequence aproxima-me da vida – do simples respirar: ora suspiro, ora ofegante.

Fica aqui o mundo que sinto em “Breathe”, uma das suas criações. É um conselho, aliás, um “grito de guerra” que a suavidade da melodia parece mascarar. É a ondulação que rebenta na areia e molha os pés – e sinto aquela frescura bem perto de mim, reforçando o gosto pela vida.

Quem já ouviu – e, espero, ainda ouve – sabe que cada canção é um oceano. As suaves melodias guardam a serenidade de estados mais tempestuosos. A voz calma disfarça desassossegos que se sentem em cada instrumento que toa.
E assim, com a certeza de que muito está por dizer, fica a vontade de respirar o sopro salgado deste álbum.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Jeff Buckley

Em 2006 ou 2007 postei alguns no fórum da Blitz. Mais tarde, e após vários e-mails, consegui eliminar a minha conta daquele site. Restam os textos que partilharei aqui.

Há artistas que prefiro ignorar. Se tivesse que optar, preferia usar determinados CDs como pires de chávena de café a ouvi-los.

Mas não me limito apenas um estilo de música ou a um artista. Fazer isso é ofender esta arte. A maravilha da música é que nos dá o que queremos – seja lá o que isso é – a qualquer momento. No entanto, há sempre um ou outro músico que enaltecemos com mais alento.
Para mim, é impossível louvar certos artistas. Não porque não merecem, mas porque qualquer homenagem parece insuficiente. No meu caso, o que quer que diga acerca de Jeff Buckley, é eufemismo.

Provavelmente já senti suspiros mais arrepiantes. Mas este é único e vai perdurando. Mesmo que previsível, surge sempre como uma brisa pesada, mas que dá uma sensação insubstituível. Esqueço-me de respirar e, num segundo, habito naquele momento tão gelado que arde. É isso que procuro na música. É isso que Jeff Buckley me oferece: uma sensação de liberdade que chego a desejar ficar algemada a esse momento. Largar a noção de uma vida, abraçar o arrepio que fluí da canção até mim – àquela parte de mim que nem sei quem é. É isso que procuro na música. E é isso que Jeff Buckley me oferece. Infinitamente.

"Music is my mother...and my father...it is my work and my rest...my blood...my compass...my love." – é isso que se comprova em cada canção de Jeff Buckley.

Para quem conhece, sabe que não vale a pena apresentar exemplos. Para quê? Teria de listar todas as canções da sua criação. E, claro, todas as covers da sua autoria. De um modo geral não sou apologista de covers. No entanto, sou incapaz de ouvir Hallelujah sem achar que é o éden das covers. I shall be released é sublime na voz de Bob Dylan, mas é com Jeff Buckley que sinto a sua essência e tudo faz sentido.

Ouvir Jeff Buckley é sentir a saudade de algo ainda não vivido. Um desassossego que vicia e que deixa réstias de uma paz perdida mas nunca esquecida. E quem já ouviu sabe que é bem mais do que isso.
Enfim. É impossível louvar alguns artistas, mas as suas criações fazem-no por si só.
Jeff Buckley é um.


Primeiros Passos Neste Soalho...

Gosto de música, ainda que sem pretenção de saber o que é bom, o que não presta ou o que até se ouve.
Procuro aquelas canções que me fazem ouvir o que sinto e agarro-me a elas como uma muleta, como se num ou outro momento elas me pertencessem e também eu já fosse uma parte delas.
Considero-me, por assim dizer, parasita da música – absorvo os sons que gosto quer me façam sorrir ou chorar.
E assim, os sons - as palavras, por vezes edulcoradas pela música ou não - deixam marcas que, se por vezes pesam, outras deixam-nos sonhar.
Deixo cair neste soalho os sons e partilho as marcas que vão deixando - os riscos, as brechas, os rangidos, as lascas...