“Não se ama alguém que não ouve a mesma canção” – canta Rui Veloso, enquanto acabo o café e acendo o cigarro – e assim, elimino o texto que estava a escrever e opto por seguir este som, que me levará algures neste dia frio.
A Paixão tornou-se usual (ou até banal) nos bares e cantares deste país e, ainda assim, há quem dê a mão à palmatória na força deste simples verso.
Pessoalmente, tenho a mão estendida desde sempre – pois o "não ouvir a mesma canção" já proporcionou o desinteresse [preconceituoso e involuntário] por uma ou outra pessoa –, mas mantenho a certeza de que o verso da medalha é igualmente bem possível.
Ainda que A Paixão nos fale de um desamor, o dia de hoje relembra como a canção – [quase] toda e [quase] qualquer uma – é uma força que elimina o espaço entre as pessoas, criando novas amizades e proporcionando um novo amor. Quem não foi ainda feliz vítima desta força, vive [digo eu] com menos sorrisos.
De um modo geral, diria que há sons que permanecem no coração – como que uma pilha extra e recarregável – para que ele não deixe de sentir. Por vezes, temos a sorte de encontrar quem use uma mesma pilha, possibilitando assim a aproximação dos corações – e ouve-se um tic-tac em uníssono que sabe sempre bem!
Nestes dias frios, que nem sequer deixam ver o sol, tenho pairado numa outra canção que recarrega as pilhas e apela ao aquecimento do coração – porque às vezes, para que haja a aproximação e o aconchego, temos que apelar!
Assim, esta canção vai e vem nesta semana de Novembro, sem que o seu significado vá para além do título. Ela é ouvida [e, em momentos distraídos, cantarolada] pela vontade de estar junto de quem se gosta, pela sensação de que essa união é possível – basta querer e ... basta ouvir a mesma canção!
Ainda que bastante reticente quanto a algumas criações dos Beatles [Yellow Submarine, independentemente do seu valor social, será sempre uma tortura...], há sons sensacionais nos seus álbuns e Come Together é, para mim, um excelente exemplo. Mais do que isso, tem sido uma excelente companhia!
Perante tantas opiniões quanto ao significado de Come Together [e, já agora, de qualquer outra canção dos The Beatles], agrada-me a ideia de que cada estrofe descreve cada um dos membros da banda, pois nem sempre temos que ver as coisas pelo lado político... Os sons unem-se e as palavras apresentam quem os cria – se tiver que pensar acerca do carácter social e político, não será hoje, certamente!
Hoje, fico-me pelo apreço da sua sonoridade suavemente energética e ideia de união que a música cria.