Para alguns, ouvir uma canção e cair num momento de sentimentalismo romântico é habitual. Essa queda não será muito habitual quando pensamos em The Clash [salvo o caso das moças que se apaixonam por um jovem Rockabilly!].
Afinal de contas, estamos a falar de um som essencialmente rebelde, com a partilha frequente de ideias semi-politizadas. Então, será isso capaz de ser romântico? As canções parecem trazer uma energia para mais do que dançar no soalho – é um pular aos zigzags, com o punho cerrado e um sorriso no rosto. The Clash eram a mistura explosiva de rock, punk, ska, reggae e, se muito bem lhes apetecesse, até salpicavam jazz, disco ou funk!
Agrada-me esta combinação de sons energéticos e aprecio como a rebeldia em The Clash se tornou, para mim, mais séria – o anarquismo e o niilismo foram substituídos por palavras e acções solidárias de movimentos de libertação e, simultaneamente, de protestos contra a violência. [Quase que] uma contradição – mas,se capazes de harmonizar sons contraditórios, os ideais estavam contraditoriamente a par.
Mais uma vez, pergunto: será isso capaz de ser romântico? Pessoalmente, sei bem como responder cada vez que oiço “I Fought The Law”.
Esta canção, mais do que o lamento contra a injustiça, mais do que um hino ao proletariado[?], é um momento. A verdade é que, da mesma forma que uma bebida nos faz lembrar uma noite bem passada, uma canção permite a lembrança de um ou outro momento e, por vezes, os dois se tornam unos.
"I Fought The Law" foi vítima de um desses momentos – numa noite qualquer, num bar qualquer desta cidade qualquer, onde todo um grupo se junta para ouvir uns sons quaisquer, senti – por um momento – a perda de uma possível relação, o afastamento de uma pessoa, ainda que ela lá estivesse.
Nesse momento dançava-se The Clash. Nesse momento, cantava-se “I Fought The Law”.
Assim, se me perguntarem se “I Fought The Law” é romântica, responderia:
“pessoalmente, não tenho como dizer que não”.
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