sábado, 20 de novembro de 2010

Ornatos Violeta

Nestas tábuas há muito pó – daquele que não se quer limpar, que permanece e não provoca qualquer alergia! O pó de hoje é português, tão entranhado neste soallho que já não sai – são 14 anos de um som que jamais pedirá vassoura.




Ornatos Violeta abriram a porta para sons que adornaram a minha adolescência e, por feliz voluntariado, prendem-me num mundo onde as palavras soam sempre melhor do que aquilo que representam.

Naturalmente, não me recordo da primeira vez que ouvi este quinteto. No entanto, confio na memória de tempos em que os corredores do liceu eram inundados de sons estrangeiros, as boysbands deliciavam os olhos das jovens e a Língua Inglesa era um escape dos rotineiros vocábulos portugueses.

Aquele cocktail de rock, ska e funk, temperado com uma ironia edulcorante, contribuiu certamente para um gradual abandono de sons ocos e afugentou a indiferença perante a música portuguesa.
A delícia de Ornatos Violeta é um todo do que procuro da música, e talvez por isso os seus sons não desaparecem da minha playlist [senti]mental.

Há algo diferente nas palavras quando na voz de Manel Cruz. É o elogio ao bom uso da Língua Portuguesa, com origem numa genialidade invejável. Uma canção, para que me prenda, não é apenas a revelação de uma agradável sonoridade instrumental acompanhada de vocábulos em rima e sempre me pareceu que Ornatos Violeta partilhavam uma semelhante opinião. Manel Cruz conhece o peso de cada palavra e equilibra o seu som como que desforçadamente mas sem esforço.
Cada álbum – e se tivessem editado mais, seriam ainda assim poucos! – é um pedaço agridoce que nunca enjoa. E é por isso que aconchego este pó e deixo o cotão sempre à mão de usar.

Assim, estou grata por Ornatos Violeta, pela companhia que me fazem quando caminho pelas ruas, pelo erguer de coragem que me oferecem, pelo andar a passo largo mais altivo, pela força para lá chegar – onde quer que seja – e ainda, pela calma, pela paixão, pelo amanhã e amanhecer de sons.

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