quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Alexi Murdoch

Mais uma vez, aqui vai um texto dos tempos do "Blitz" - será o penúltimo a ser portado aqui. Estou a negociar com a minha nota mental quanto à criação de um novo texto todos os dias... hummm... A ver vamos!

Como uma brisa – o sopro da beira-mar nunca me soube tão bem. Foi assim que me senti quando ouvi Alexi Murdoch. Já se passaram alguns anos e esta brisa ainda é bem vinda.

Tem sido agradável a ideia de poder ouvir Alexi Murdoch – sempre.

A música – aquela que, para mim, não destrata esta arte – é fugitiva do tempo. Diria antes: é ela que lança os dados, flutuando em liberdade. É por isso que – recorrendo a um simples exemplo – o tempo sucumbe quando soa “Nessun Dorma” de Puccini, ou “What a Wonderful World” cantado por Armstrong.
Se os ponteiros do relógio nos regem, gaguejando segundo a segundo, a música fluí décadas, séculos, eternamente ignorando esse limite.
A música não sobrevive ao tempo – apenas vive. Assim, agradeço a possibilidade de saboreá-la – sempre.

Por outro lado, há canções que – pessoalmente – limitam o espaço. Melhor: as características do espaço que me rodeia. A melodia, a palavra, são – para mim – picuinhas. Com Alexi Murdoch, procuro a calma das ondas do mar.

Alexi Murdoch canta a simplicidade da vida tantas vezes ofuscada pelo pesar de uma sociedade que nos açoita, transformando o “eu” tão banal que nos esquecemos de sentir a vida. Pois nem tudo é guerra, corrupção e mentira. E Time Without Consequence aproxima-me da vida – do simples respirar: ora suspiro, ora ofegante.

Fica aqui o mundo que sinto em “Breathe”, uma das suas criações. É um conselho, aliás, um “grito de guerra” que a suavidade da melodia parece mascarar. É a ondulação que rebenta na areia e molha os pés – e sinto aquela frescura bem perto de mim, reforçando o gosto pela vida.

Quem já ouviu – e, espero, ainda ouve – sabe que cada canção é um oceano. As suaves melodias guardam a serenidade de estados mais tempestuosos. A voz calma disfarça desassossegos que se sentem em cada instrumento que toa.
E assim, com a certeza de que muito está por dizer, fica a vontade de respirar o sopro salgado deste álbum.

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